segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uma historia de paixão

Esta é a história de um amigo meu e de como começou a sua paixão por clássicos.
Estávamos em plenos anos setenta quando esta história ocorreu.
Este meu amigo é um homem cheio de sentimento, que coloca paixão em cada palavra que sai de sua boca. Esta história é apenas uma entre tantas que conta…Mas para mim tem um sabor diferente pelo envolvimento sentimental que se percebe no seu olhar.
Como já disse, estávamos em plenos anos setenta. Lírio (chamemos assim) cumpria serviço militar na força aérea, a uma distância considerável de sua namorada, distancia essa que impedia a sua deslocação alem dos fins-de-semana. Filho de famílias modestas a possibilidade de ter um carro limitava-o apenas a deslocar-se em transportes públicos que na altura eram bastante limitativos.
Todas as semanas a namorada reclamava o pouco tempo disponibilizado a ela. Ele coitado sem solução, ficava-se pelo simples encolher de ombros… Pois que podia ele fazer aquele problema instalado?
Um dia num daqueles passeios de mão dada (típicos dos namorados…), passaram junto de um stand de automóveis, em exposição estava um mini de cor preta.
-Lindo!!!
Diz-me Lírio com um olhar comovido de saudade.
A sua condição económica permitia-lhe apenas sonhar com aquele lindo carrinho…
-Sabes? Diz ele para a jovem que estava a seu lado.
-Se tivesse dinheiro para este carro comprava-o e vinha ver-te todos os dias…
A jovem namorada sorriu, como que enternecida com a ideia…
Mas nem uma palavra disse.
Findo o dia, por entre despedidas apaixonadas de juventude, e de promessas de regresso no próximo fim-de-semana. O meu bom amigo lá teve de regressar à base com a saudade de uma semana inteira no coração.
Passada essa semana (Sempre interminável para quem está longe de quem ama) regressou a companhia da namorada.
Esta estava com um sorriso diferente do habitual. Como quem esconde algo…
-Tenho uma coisa para ti!
Sussurrou-lhe baixinho ao ouvido, enquanto lhe colocava qualquer coisa metálica na mão.
-O que é?
Perguntou-lhe ele tentando adivinhar que objecto metálico seria aquele em sua mão…
Apontando pela janela com um sorriso maroto…
-Olha o que está ali fora!
Na mão o Lírio segurava as chaves de um carro e do lado de fora da janela estava o mini preto que na semana anterior ele tanto gostara.
Nesta altura é visível o brilho emudecido de uma lágrima contida no meu amigo Lírio ao recordar aquele momento tão singular.
-Agora não há desculpa para não estares mais tempo comigo…
Disse-lhe ela em tom de gracejo.
A jovem, filha de pais abastados, passou a semana a convencer o pai para comprar aquele mini para o namorado.
Hoje ao contar-me esta história, este meu amigo não confessa de onde nasceu a sua paixão por clássicos e tenta contar esta história apenas como se fosse mais um episódio entre tantos de uma vida cheia.
O namoro por contingências próprias da vida acabou por não vingar, o mini por outras contingências teve de ser vendido…
O que sobrou?
Não sei!
Mas há uma paixão enorme por detrás desta história que leva o meu amigo a possuir cerca de catorze minis todos impecavelmente restaurados pela sua mão.
Quem sabe neles ele tente encontrar o “Lindo” mini preto que um dia alguém lhe deu…



Luís Fernando de Oliveira e Silva

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