segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uma historia de paixão

Esta é a história de um amigo meu e de como começou a sua paixão por clássicos.
Estávamos em plenos anos setenta quando esta história ocorreu.
Este meu amigo é um homem cheio de sentimento, que coloca paixão em cada palavra que sai de sua boca. Esta história é apenas uma entre tantas que conta…Mas para mim tem um sabor diferente pelo envolvimento sentimental que se percebe no seu olhar.
Como já disse, estávamos em plenos anos setenta. Lírio (chamemos assim) cumpria serviço militar na força aérea, a uma distância considerável de sua namorada, distancia essa que impedia a sua deslocação alem dos fins-de-semana. Filho de famílias modestas a possibilidade de ter um carro limitava-o apenas a deslocar-se em transportes públicos que na altura eram bastante limitativos.
Todas as semanas a namorada reclamava o pouco tempo disponibilizado a ela. Ele coitado sem solução, ficava-se pelo simples encolher de ombros… Pois que podia ele fazer aquele problema instalado?
Um dia num daqueles passeios de mão dada (típicos dos namorados…), passaram junto de um stand de automóveis, em exposição estava um mini de cor preta.
-Lindo!!!
Diz-me Lírio com um olhar comovido de saudade.
A sua condição económica permitia-lhe apenas sonhar com aquele lindo carrinho…
-Sabes? Diz ele para a jovem que estava a seu lado.
-Se tivesse dinheiro para este carro comprava-o e vinha ver-te todos os dias…
A jovem namorada sorriu, como que enternecida com a ideia…
Mas nem uma palavra disse.
Findo o dia, por entre despedidas apaixonadas de juventude, e de promessas de regresso no próximo fim-de-semana. O meu bom amigo lá teve de regressar à base com a saudade de uma semana inteira no coração.
Passada essa semana (Sempre interminável para quem está longe de quem ama) regressou a companhia da namorada.
Esta estava com um sorriso diferente do habitual. Como quem esconde algo…
-Tenho uma coisa para ti!
Sussurrou-lhe baixinho ao ouvido, enquanto lhe colocava qualquer coisa metálica na mão.
-O que é?
Perguntou-lhe ele tentando adivinhar que objecto metálico seria aquele em sua mão…
Apontando pela janela com um sorriso maroto…
-Olha o que está ali fora!
Na mão o Lírio segurava as chaves de um carro e do lado de fora da janela estava o mini preto que na semana anterior ele tanto gostara.
Nesta altura é visível o brilho emudecido de uma lágrima contida no meu amigo Lírio ao recordar aquele momento tão singular.
-Agora não há desculpa para não estares mais tempo comigo…
Disse-lhe ela em tom de gracejo.
A jovem, filha de pais abastados, passou a semana a convencer o pai para comprar aquele mini para o namorado.
Hoje ao contar-me esta história, este meu amigo não confessa de onde nasceu a sua paixão por clássicos e tenta contar esta história apenas como se fosse mais um episódio entre tantos de uma vida cheia.
O namoro por contingências próprias da vida acabou por não vingar, o mini por outras contingências teve de ser vendido…
O que sobrou?
Não sei!
Mas há uma paixão enorme por detrás desta história que leva o meu amigo a possuir cerca de catorze minis todos impecavelmente restaurados pela sua mão.
Quem sabe neles ele tente encontrar o “Lindo” mini preto que um dia alguém lhe deu…



Luís Fernando de Oliveira e Silva

O Vauxhall Viva do Meu Padrinho... Um carro de facho!

Um carro de “facho”.

Corria o ano de 1975 quando o meu padrinho realizou um feito histórico na família. Comprou um carro novo em primeira-mão.
Não era muito frequente, um jovem em começo de vida começar logo por um carro novo a estrear, mas o meu padrinho depois de muito poupar lá conseguiu realizar o seu sonho.
Como já disse corria o ano de 1975, tinha eu na altura 3 anos o único carro que se conhecia na família era o do meu pai que já começava dar muitos sinais de cansaço e diga-se de passagem não era muito elegante.
Ainda hoje recordo a noticia… A minha mãe para mim.
- Filho o teu padrinho comprou um carro novo.
-E é bonito, mãe?
-Não sei! Mas logo quando o teu pai chegar vamos lá vê-lo.
Não descansei mais até o meu pai chegar a casa embora muito pequeno, recordo a minha curiosidade como se fosse ontem.
Começou a cair a noite e isso era sinal de que o meu pai estava quase a chegar a casa. Os meus olhos não desligavam da janela na esperança de que por qualquer motivo o meu padrinho até se decide-se a vir mostrar-me o carro… enfim criancices!
Mas por fim lá caiu a noite e o meu pai veio com ela na velha Raimona (Apelido que o meu pai chamava ao carro, que também era um vauxhall carrinha série há.), enquanto jantava lá a minha mãe ia contando as novidades do dia inclusive da compra do meu padrinho.
As palavras magicas: vamos lá então ver isso.
-Disse o meu pai decidido.
Família na Raimona e lá fomos nós direitos ao carro novo do meu padrinho.
Quando chegamos á entrada da fazenda dos meus avós vimos um carro avançar lento junto á berma da estrada.
Diz o meu pai para a minha mãe…
-Deve ser o teu irmão a experimentar o carro… Então, ele não sabe que metade da estrada é dele? E que não é preciso andar em cima da berma?
-Não sejas assim… Retorquiu a minha mãe!
-Não vês que ele tem carta á pouco tempo?
Meu pai sorriu com olhar trocista mas não tornou a dizer mais nada…
Eu pequeno perdido no banco de traz tentava perceber que carro era aquele tão diferente do, carro do meu pai.
Esguio e baixinho todo brilhante com um ruído silencioso e de cor azul (Pouco perceptível pois era de noite) … muito bonito!
Paramos já dentro da fazenda e esperamos que o meu padrinho fosse ter connosco para mostrar o popó novo.
Quando ele chegou fui logo lá meter o nariz para ver tudo muito bem visto.
O meu pai e o meu padrinho lá ficaram a discutir os pormenores técnicos e a dar os habituais toques com a biqueira do sapato nos pneus (até hoje desconheço qual a finalidade disto pois não estou a ver detectar seja o que for desta forma. Mas que é uma tradição na compra de qualquer carro dar esses toques lá isso é).
Surge então o momento ambicionado. A viagem inaugural.
Entramos todos lá dentro, até para levantar o banco havia um manípulo. O luxo era notório. Sentia-se o cheiro de carro novo e a minha mãe disse ao afundar no banco estofado e fofo: ena, carro de “facho”…
Meu padrinho sorriu amarelo pois aquela expressão apesar de vir da irmã com as memórias frescas do 25 de Abril não era das mais felizes…
Mulheres e crianças atrás e homens á frente e lá arrancou aquele mini passeio de família.
O meu pai sem conseguir resistir teve de dizer…
- Olha que metade da estrada é tua não vás em cima da berma…
Lá se puxou pelos cavalos (pouco para não estragar o popó) e cinco minutos depois estava a volta dada.
Depois disso habituei-me a ver aquele carro azul lindo sempre nas mãos do meu padrinho durante mais de 20 anos. Sempre tive o desejo secreto de ficar com ele um dia mais tarde… mas a vida não se proporcionou a tal. Depois de se fartar de procurar peças aqui e ali para ele o meu padrinho acabou por vende-lo para a sucata.
Já em cima do reboque diz quem viu que o azul apesar de sujo continuava bonito como sempre foi. Mas, o motor… esse já estava silencioso de inércia e sem retorno…
Triste fim para um carro de “facho”…

Luís Fernando de Oliveira e Silva

A "raimona"...


A raimona…


A história que eu conto aqui reporta-se á minha infância nos anos setenta e como é lógico envolve a história de um automóvel que marcou a minha infância. Corria o ano de 1966 quando o meu pai como tantos outros regressou de Angola.
(Meu pai em Angola junto de um willis)
A minha avó na altura tinha um pequeno “lugar” (Pequena mercearia) de frutas e hortaliças que servia de sustento á família.
Estávamos em período de guerra no país e a crise acentuava-se. Os pequenos fornecedores da zona não chegavam para manter a freguesia satisfeita, ávida de produtos frescos, diariamente. As transportadoras acumulavam a maior parte dos lucros e encareciam os preços de forma proibitiva.
A minha avó, mulher empreendedora, rapidamente se apercebeu que era necessária á família e ao negocio um veiculo de transporte que desse resposta ás crescentes necessidades do dia a dia.
Meu avô homem envolvido muitas vezes em questões de politica e com um espírito de justiça e reivindicativo muito próprio não tinha nunca tido a oportunidade de tirar a carta de condução. De qualquer maneira o seu trabalho na marinha mercante também não dava muita margem de manobra para se contar com ele numa tarefa quase diária.
Restava o meu pai jovem de 25 anos com a carta de condução tirada na tropa e que já tinha voltado para ajudar a família.
A reacção não podia ser pior… Estávamos em 1966 com um país em guerra, e a minha avó queria comprar um carro para o qual não havia dinheiro…
Depois de muita teima e de muitos receios lá o meu pai se convenceu. Procuraram um amigo de família que era vendedor da BMW e ele perante as necessidades lá lhe indicou um veículo adequado fruto de uma troca. Tratava-se de uma carrinha vauxhol viva que tinha apenas 12000 km. Negocio feito 24 letras mensais para pagar e uma série de dores de barriga de medo de não as conseguir pagar.
A ideia não podia ter sido melhor. Os produtos eram adquiridos todos os dias e vendidos ainda frescos, a freguesia comprava mais barato e a minha avó embolsava os lucros que dantes eram para transportadoras.
Os anos foram passando, o meu pai casou e a carrinha carinhosamente apelidada de raimona (O meu pai baptizou com este nome pois na altura a raimona era o nome que as pessoas chamavam ás carrinhas da”pide” que vinham buscar os dissidentes a casa á noite. Eram muito semelhantes de cor preta e aspecto quadrado…), continuou na família mais uns anos. 1972 Foi o ano do meu nascimento, o carro da família continuava a ser a “raimona”mas já com bastantes sinais de degradação. Da minha infância recordo as avarias constantes e os habituais pedidos de ajuda a quem passava para dar um empurrão aqui ou ali. As horas que o meu pai passava, a remendar esta ou aquela avaria com os seus conhecimentos de mecânico da tropa… Recordo também o buraco que nasceu debaixo do lugar do pendura e do qual se via a estrada… enfim naquela altura não entendi porque o pequeno orçamento familiar não conseguiu manter a velha carrinha, mas hoje percebo porque se esgotou a paciência do meu pai.
1980 O chassis da carrinha já bastante corroído deixou de oferecer segurança e o meu pai encostou-a definitivamente. Um amigo do meu pai ainda a comprou e a levou para Setúbal com ideias de a recuperar mas infelizmente desistiu logo de início. Na minha meninice de então chorei com muita mágoa por o meu pai ter vendido o carro e por pirraça escondi a chave sobresselente que ainda hoje conservo religiosamente como recordação.
Da carrinha nada mais soube até mais ou menos dois anos em que descobri que ela esteve abandonada no hospital do Outão onde trabalha esse amigo do meu pai até a cerca de quatro anos e de onde foi para a sucata sem grandes honras e méritos.
Para a recordar ficou a chave, e as fotos de outra que foi entregue para abate e que eu não consegui salvar…

Uma Viagem á Aldeia Pai das Donas


Escrita pela minha esposa.


Uma ida á Aldeia de Pai das Donas…

Sendo esta uma crónica feminina gostaria de neste momento dar conhecer como vai o mundo dos clássicos para a mim…
Tratava-se do primeiro aniversário do Clube F.I.A.T. de Portugal e como o meu marido está envolvido desde o seu início, não quis deixar de comparecer.
No primeiro de todos os encontros levou-me, até á paisagem do luso a bordo da “mítica” branquinha.
A branquinha (Como ele lhe chama) é uma carrinha Fiat 128 de 1977 que ele conserva como se fosse da família.
Como este encontro era na Mealhada e bastante próximo da aldeia da minha mãe, a Aldeia de Pai das Donas, achamos por bem ir dois dias antes para evitar as viagens de madrugada, sempre desconfortáveis.
A minha mãe apreciou a ideia de ir até á sua aldeia e juntou-se a nós.
A viagem começou com algumas peripécias típicas de uma”rainha de garagem…”
Uma coisa qualquer da bateria isolado… o Motor em silencio.
Confesso que eu e a minha mãe ficamos com alguma satisfação pois 350kms num carro com 27 anos não nos deixava muito descansadas…
Mas a solução veio rápida, da mala de ferramentas sempre pronta, e lá arrancamos do Barreiro em direcção a “Pai das Donas” concelho de Arganil.
Como se espera em Dezembro o frio era intenso e um aquecimento avariado não ajudou muito ao conforto da viagem.
Para ele tudo fazia parte do espírito de aventura associado mas para as suas companheiras de viagem…enfim…
Lá seguimos calmamente na velocidade permitida de 110 a 120km/h, e em cerca de três horas e meia lá chegávamos calmamente já de noite á bela vila de Côja já, e a horas de jantar. Paramos para um típico bacalhau á lagareiro, muito bem-vindo junto com um aquecedor que gentilmente nos foi cedido pela empregada.
Depois de jantar rumámos á aldeia a cerca de 3 km dali. Passamos a linda ponte romana com o rio Alva por baixo na agitação própria das chuvas…e lá seguimos serra acima com o pequeno motor sempre a puxar e a vencer cada subida em curva. Levando-me a dar graças por uma tal desmultiplicação das velocidades…
Na aldeia nada se via… nesta altura do ano apenas duas ou três famílias habitam a fria encosta da serra do Açor (Vizinha da serra da estrela).
Do quarto onde pernoitamos, pela janela eram visíveis as aldeias vizinhas. Algumas com um manto branco de neve causaram-me alguma inveja, mas só até olhar para a preocupação do meu marido. É que depois de meses enfiada numa garagem a 350 km dali, de repente a carrinha se via exposta aos elementos naturais de uma serra, que por muito bonitos e engraçados seriam muito daninhos para chapas e motores antigos…
No dia seguinte para espanto dos habitantes (poucos) lá estávamos nós com um veículo muito pouco usual por aquelas bandas.
-Então o Ti Marques e a ti Alice não vieram?
(Os meus avós já com alguma idade não resistiriam aos rigores do Inverno na serra pelo que ficam no Barreiro á espera de dias mais quentes.)
- Não! Está muito frio para eles…
O dia foi decorrendo entre chuvas, e uma queda na apanha dos diospiros que não iriam ficar á mercê da solidão daquela típica aldeia.
Á noite numa visita á aldeia do lado, com o rigor do frio a carrinha resolveu parar em plena estrada…
Qualquer coisa afogada… Dizia o meu marido irritado com as ferramentas para um lado e outro com os poucos habitantes da aldeia a rodear o carro, perplexos com semelhante loucura de trazer um carro daqueles para um sitio tão ermo.
Mas da mala de ferramenta mais uma vez, lá saio a solução para a inércia do veículo, e lá seguimos.
Já no dia um de Dezembro logo cedo eram horas de se avançar para a Mealhada onde os restantes participantes se iriam juntar para um típico leitão á Bairrada.
A “mítica branquinha” iniciou a sua marcha carregada de produtos da horta ou não fosse ela uma carrinha e portanto, vocacionada para tais funções.
Das visões mais agradáveis de se ter é o brilho do sol cristalizado pelas gotículas de orvalho da manhã, dentro de um carro aquecido…Pois… é verdade… o aquecimento estava avariado… pormenores…
Chegamos á Mealhada junto com outros participantes, ansiosos pelo desenrolar do encontro…
Uma pequena gincana na qual se recusou a participar pois a bagageira cheia de diospiros não era propriamente uma vantagem…
E depois um almoço de bom leitão que durou até ao fim da tarde.
350kms nos aguardavam no final do fim de semana…
A velha 128 foi sempre andando sem problemas até que junto de Vila Franca uma luz do mostrador se acendeu para pânico dos ocupantes.
Parece que uma coisa qualquer tinha deixado de realizar a sua função e já de noite a branquinha seguiu o resto do percurso apenas com luzes nos mínimos, com o apoio de um Fiat 127 de um amigo que se dispôs a tomar a dianteira para poupar a bateria.
Tanto eu como a minha mãe estávamos em stress e com frio.
O carro lá ia seguindo com o fantasma do empano a perseguir-nos.
O meu marido conformado (e sempre seguro pela assistência em viagem que serve para estas coisas) e irritado (Desta vez a solução não sairia da mala de ferramentas) continuou a viagem até ao Barreiro, onde só respirou aliviado, á porta de casa.
Neste momento fala-me numa viagem pela Europa com outro 128 ainda mais velho, até ao berço da Fiat… Itália…
Com tantas peripécias e sem o aquecimento arranjado não sei se me convence…


Isabel Maria Marques Prata e Silva

Viagem a Évora


Uma viagem a Évora…Estávamos em 2002 quando foi mais um encontro do Clube Fiat de Portugal em Évora.A recuperação do amarelinho já lhe permitia arriscar qualquer coisa por isso estava decidido! O amarelinho vai a Évora!O começo da história reporta-se a algum tempo a traz quando resolvi contra tudo e todos comprar o meu clássico mais antigo. Um Fiat 128 da primeira série que eu vira abandonado á porta de um prédio em Setúbal. Inicialmente pensava em comprar um carismático 600s ou o irmão mais novo, o 850. A ideia andava a trabalhar á muito na minha cabeça até que aquele 128 me despertou a atenção durante umas semanas. Era um 128 da primeira série já um pouco rara de se ver por ai, por isso lá o comprei por 28 contos ao seu antigo dono com o objectivo de o restaurar aos poucos. Quando o levei para casa pelos próprios meios pouca gente acreditava que isso fosse possível pois já havia 30 anos que tal veiculo tinha saído do stand. Mas enfim com uma genica própria de quem foge do fim certo o 128 lançou-se em corrida para o mais longe possível de Setúbal até á Moita onde comecei por desmancha-lo.Ficou apenas carroçaria e motor… o carrinho metia dó!Ficou ainda alguns meses sem ser mexido pois a minha mulher achava pouca piada a eu ficar longe de casa para mexer em carros velhos. Enfim… coisas de mulheres…Solução? Levar o 128 para casa, onde dentro da garagem do domicílio se podia actuar mais á vontade na sua recuperação sem ficar afastado do lar doce lar…Sopa no mel!!! Sempre que algo não me agradava na televisão ou a esposa tinha de fazer alguma coisa lá ia eu como criança junto da árvore de natal agitar as prendas para antecipar o momento de as abrir.Não foram raras as noites em que depois da amada esposa adormecer lá ia eu fazer qualquer coisinha no brinquedo pela noite dentro (sempre fui vitima das insónias desde que me conheço por gente…).Como já estava desmontado foi aproveitar para preparar a chapa para pintar e ir resolvendo alguns problemas mecânicos como travões, dínamo e radiador entre outros. O projecto de restauro lá foi tomando forma pouco a pouco entre risos e piadas de colegas, amigos e família.A cor? Foi difícil pois a cor original não condizia com o objectivo do brinquedo que é mesmo esse. Brincar…Pedi ajuda á minha amada esposa pois por um acaso do destino não me dou bem com as cores embora tenha noção delas não as distingo (daltónico). Procuramos entre os tons de amarelo disponíveis nos catálogos da Fiat e lá estava amarelo Fiat 1973.È este! Disse ela com convicção. Comprei a tinta e pus-me ao trabalho! Pintei o carro (e a garagem) todo (toda…).A primeira pintura não ficou lá grande coisa mas também não estava feio. Faltava apenas algum brilho!Montei o carrito, comprei uns pneus e no dia três de Fevereiro estava pronto a ir á inspecção.Nesse dia fatídico, foi roubado da porta de casa…Foi um mês horrível… depois de muito investimento pessoal e financeiro, tudo ia por agua abaixo por uma mão alheia que o queria, sabe deus para quê… Noites houve em que me dirigia para a janela para ver os carros a passar ao longe na esperança vã de que por um acaso ilusório os ladrões se deixassem ver com o meu amarelinho…Todos os dias, ouvia na minha tristeza as mais absurdas teorias…Desde, que tinha sido roubado para ser prensado para a dose de droga de algum toxicodependente, ou para ser exportado para Angola onde os Fiat 128 têm ainda muita aceitação.Enfim…Mas um mês depois no dia 2 de Março lá recebi a notícia por intermédio do amigo José Fernandes que o meu carro havia sido visto em Brejos de Azeitão próximo de um salão de jogos (Durante o tempo de desaparecimento um grupo de amigos do clube F.I.A.T. de Portugal uniu esforços na divulgação das fotos e foi graças a isso que o veiculo enfim lá apareceu.). Foi lá e para minha surpresa Lá estava ele com um cubo da roda partido mas era ele…Voltou á garagem e nessa mesma noite depois de trabalho de oficina caseiro pegou á primeira volta do motor de arranque e foi dar uma voltinha pela urbanização.Mais uns tempos de recuperação caseira e foi pela primeira vez á inspecção… passou apenas com uma anotação de aviso na panela de escape que estava a ficar furada.Desde ai o amarelinho (Alcunha pela qual passou a ser conhecido), tem sido um amigo inseparável de varias aventuras uma das quais a ida a Évora que foi para mim o corolário do sucesso do meu trabalho.Cerca de 200 km para testar a mecânica e o mecânico…A minha esposa sempre com uma opinião algo céptica não estava de grande vontade mas lá se convenceu da importância de tal passeio para mim e por isso concordou a muito custo.Chegou ao domingo, e eu como quase sempre tinha trabalhado de noite… mas não me atrapalhei sai de Setúbal, fui ao Barreiro buscar a esposa e segui para Palmela, que era ponto de encontro da caravana.Quando lá chegamos era altura de atestar o veículo com a velhinha super aditivada. Vinte euros? Deve chegar…Dirijo-me para a caixa quando… por debaixo do velho 128 a agua corria a fio… a viagem estava condenada pensei eu.Abri o capo, e lá estava a causa. Um furo microscópico vaporizava a agua a grande pressão. Mala de ferramenta, jeito e habilidade e pronto para seguir de novo até Évora.A caravana seguiu o seu percurso e eu lancei-me no seu encalço.Já depois de Grândola apanhei-a, e seguimos até ao destino.Depois de algum tempo de convívio era o momento de voltar.Como ainda era cedo resolvemos (eu e a minha mulher…) voltar pela nacional, e seguir por Tróia para apreciar a paisagem solitária do Alentejo. As longas estradas com vastas planícies de ambos os lados, tornam este tipo de viagem algo solitária. Porem o trabalhar suave de um motor de 128, assim como a companhia da mulher de nossa vida num caminho assim, tem o sabor romântico do final de um qualquer, filme de aventuras (Não é propriamente um Ford Mustang a acelerar pelo Texas a fora com o ranger whallker lá dentro mas também estamos em Portugal…).Ao chegar aos barcos de Tróia depara-se nos, uma pequena fila já habitual num domingo. Paramos e aguardamos…Nisto reparamos num agente de autoridade que se dirigia para o carro, com ar de poucos amigos.- Luís… ele, vem para aqui! Diz a minha esposa assustada.- Pois que venha! Tudo está ok com o carro! (Nestes momentos por mais confiança que tenhamos numa coisa, vacilamos sempre um pouco com a presença do agente de autoridade) O agente dirige-se a nós, faz-me sinal para baixar o vidro… e diz com tom muito sério.- Sabe o que eu quero de si?­- Não… Respondo eu com algum receio já a prever alguns aborrecimentos…- Quero saber… quanto você quer pelo carro!!!Foi o primeiro carro que eu tive na minha vida e deixou-me muitas saudades.Para minha surpresa o agente era um aficionado pelos clássicos e já possuía alguns Fiats na sua colecção.Depois de alguns minutos de conversa agradável com aquele agente simpático, o barco teve de seguir para Setúbal para depois regressar a casa com uma belíssima história para recordar e contar, alem de uma fotografia tirada por acaso que ficou muito curiosa pelo contraste que revela entre algumas marcas de luxo e o meu carrinho, que realmente foi o rei desta viagem.

Luís Fernando de Oliveira e Silva

Projecto 2005







Projecto 2005…Quem me conhece, á muito que sabe desta minha paixão pelos clássicos.Paixão que vai muito alem da simples posse de veículos clássicos e da sua exibição por alguns encontros casuais aqui e ali.Gosto de meter as mãos na máquina e dar vida aos poucos a tudo o que os anos de utilização foram roubando ao carro.Em 2002 quando comprei o Fiat 128 foi esse o objectivo proposto.Recuperar com as minhas mãos um veículo clássico fazendo tudo o que fosse possível de ser feito por mim.Mas este ano quis levar a coisa mais longe mais concretamente a Itália. Berço da Fiat de onde é originário o meu “carrinho”Apesar de já ter sido visto aqui e ali em alguns encontros pelo país, o BI-31-57 tinha muitos pormenores a serem tratados em termos estéticos.Primeira etapa retirar o motor e a caixa para expor convenientemente os pontos a tratar e depois com paciência, tratar um a um com carinho.O motor e todas as peças foram cuidadas de maneira a estarem esteticamente aceitáveis á vista.Depois chegou a vez de substituir borrachas de para brisas e frisos até ao momento de recolocar tudo no lugar de novo.Agradeço ao meu amigo Joaquim Manuel a sua preciosa ajuda nesta etapa, que já foi um pouco a contra relógio, nos preparativos da jornada.No dia 31 de Maio tudo estava a postos. Objectivo: Itália!Pretendia-se participar no encontro do FIAT 130 Owner’s club de Itália, com um Fiat 128. A direcção do Clube aceitou a inscrição e lá partimos nós.A partida, junto com outro companheiro noutro carro, foi de Penamacor. A proximidade com a fronteira Espanhola, iria facilitar os nossos objectivos de percurso pelas nacionais e auto vias Espanholas.Os primeiros 1000kms decorreram sem problemas. Foi um entusiasmo tão grande que inclusive esquecemos que o nosso carro pedia uns certos cuidados de verificação… Perto da Fronteira com França teve-se de recolocar o nível de liquido no radiador. Este foi um momento de lição para nós que quase custaria a viagem e foi fonte de muita ansiedade nos quilómetros seguintes. O dia seguinte, fruto deste episódio, foi apelidado de “dia dos barulhos”. O meu ouvido, identificava todo e qualquer ruído no carro como uma eventual probabilidade de avaria. Foram feitas muitas paragens na expectativa de as ir eliminando. Felizmente todas eram apenas fruto do susto do dia anterior e nenhuma se concretizou.Ainda em Espanha uma operação Stop nos Pirinéus, ameaçou a nossa tranquilidade pois a guarda civil Espanhola fez o Fiat parar apenas porque tiveram curiosidade em saber o que semelhante carro estaria a fazer tão longe da sua origem. Simpaticamente deram alguns conselhos de viagem e desejaram sorte aos “loucos” nos seus intentos.O dia dos Barulhos terminaria em Cisteron onde um banho reconfortante e umas horas (Poucas…) de sono retemperador souberam a pouco antes de uma chegada triunfante a Itália, pelos Alpes (ou não estaríamos em presença de uma maquina transalpina…). A passagem por Turim apesar de ter um certo sabor nostálgico seria um ponto interessante, não fosse pelo trânsito caótico que se sentia antes de um Fim-de-semana prolongado.O horário para chegar a Piombino onde se tomaria o Ferry, começava a ficar algo apertado e isso levou a uma mudança de planos que nos impeliu para uma auto-estrada até ao destino pretendido.Cerca das 21h chegávamos à deslumbrante “Isola de Elba” onde o resto do grupo nos aguardava.Apesar de algum cansaço, já esperado em 2700kms, sentia-se um sabor de vitória no momento em que estacionamos no Parque do Hotel ao lado do Fiat 124 Spider do Carlos da Silva, também ele parte deste grupo de Portugueses… metade da aventura já estava.No dia seguinte depois de uma boa noite de sono o grupo de Portugal estava pronto a dar-se a conhecer aos restantes elementos do encontro.Desde Heróis passando por loucos sem esquecer aventureiros houve vários nomes que nos foram conferidos. Os Italianos duvidaram inclusive da simplicidade mecânica do motor do pequeno Fiat esperando altas modificações que permitissem o impulsionar dos dois loucos por essas estradas fora.Os três dias na Ilha foram premiados por paisagens deslumbrantes, em estradas de excelente qualidade com uma gastronomia agradavelmente diferente daquela a que estamos habituados em terras de Viriato.A simpatia de um povo e o sabor envolvente da história do local onde sabemos ter estado exilado o Tirano Napoleão associados á beleza e elegância natural das praias desta ilha Mediterrânea (e não só…) Fizeram daqueles dias, dias especiais que jamais esqueceremos.Já no Domingo era o momento de regressar… Com uma certa pena, como é óbvio, lá colocamos o nosso Fiat 128 a rolar pela estrada em direcção ao Ferry… já se sentia no ar a saudade dos nossos ante queridos que nos esperavam na origem misturada com a nostalgia dos bons momentos passados. Os cerca de 2500kms que faltavam até pareciam mais curtos. Como dizia o meu companheiro de viagem depois de cada placa indicativa de distancia…“O que é isso para nós?”Ainda em França, foi feita uma pequena manutenção no veículo. 4000kms depois os platinados acusavam alguma perda de eficácia, os Alpes estavam vencidos, mas impunha-se a sua substituição.Tal como á trinta anos o meu pai faria, também eu fui prevenido com um jogo suplente de platinados e condensador (Entre muitas outras coisas…). Durante a “operação” ouviu-se um conhecido… Portugal!!! Viva o Benfica!!! A nossa resposta foi pronta! Viva o Sporting!!!Num grupo de Motards, que por acaso estava de passagem em direcção á Suiça, fomos encontrar uma série de Portugueses emigrantes. Apesar de espantados com a presença de uma matrícula Portuguesa com quase trinta e cinco anos em plena França, foi notória a satisfação de trocar algumas palavras na língua de Camões onde menos se esperava…Platinados e condensador substituídos, motor de novo como um relógio, seguimos a nossa viagem como se impunha.Já em Espanha se sentia o a proximidade do nosso pais deixando França e Itália para traz, nas matrículas dos camiões de longo curso e nos sinais de luzes de cedência de passagem se sentia a presença dos nossos patrícios que simpaticamente acenavam á passagem do “Amarelinho”.O grande sucesso da viagem já se sentia Á entrada de Elvas com temperaturas sufocantes que ainda obrigaram a uma ligação directa da válvula do radiador para disparar a ventoinha mais cedo. Felizmente arte e engenho não faltaram a estes dois viajantes…Em Montemor na Hora de almoço não resistimos a um bom Bacalhau á lavrador, O tipicamente português já nos ia fazendo alguma falta nas saborosas dietas mediterrânicas de Itália.Entretanto cerca das 16h do dia 7 de Junho os dois loucos, heróis, aventureiros chegavam ao ponto de partida… Palhais no Barreiro!Mais extenuados com o calor Alentejano do que com a subida íngreme dos Alpes, mas felizes com a conquista de quase 6000kms de estradas num FIAT 128 de 1971, que confirmou a frase Publicitária:FIAT 128… É Mais carro!

A minha mulher e os classicos


Outro dia ao ler o apelo na revista topos e clássicos sobre a crónica feminina, senti que esta era uma boa oportunidade de agradecer à minha esposa toda a paciência que tem tido comigo nesta coisa dos clássicos.Antes de começar a escrever perguntei-lhe, o que era para ela estar casada com um apaixonado por carros antigos (Confesso que cheguei a temer a resposta)?Para meu espanto…-Não é mau! Irrita-me que prefiras gastar dinheiro numa peça qualquer em vez de um bom par de sapatos, mas até gosto dos passeios…O meu gosto pelos clássicos remonta no tempo, talvez até à infância em que em vez de pedir ao meu pai para comprar os vulgares carrinhos em miniatura, pedia para comprar as miniaturas dos chamados “calhambeques”. Embora pareça estranho, esta minha paixão vai até aos dias de hoje.Quando comecei a namorar a minha esposa, rapidamente ela verificou que o seu namorado era um “bocadinho” diferente dos namorados das amigas…O futebol não fazia parte dos assuntos, porem sempre que passava um carro mais antigo o brilho nos olhos fazia logo adivinhar minutos (Sim! Minutos, porque o tempo para namorar é sempre escasso) de história sobre o modelo ou a marca.Sempre com a paciência própria de quem ama, lá ia ouvindo as histórias sempre com ar de quem está interessada.O tempo foi passando e o namoro passou a casamento. Em Setembro de 2000 passamos a ser marido e mulher.Em Setembro de 2000 fiz-me sócio do primeiro clube de automóveis antigos com a minha carrinha Fiat 128.Nesta altura a minha Isabelinha (diminutivo carinhoso de Isabel.)Viu-se envolvida sem querer neste mundo dos clássicos.Os passeios passaram a ser uma constante e as aventuras de carros antigos tornaram-se uma realidade a assumir.(Tirada num passeio ao Alentejo)Passado pouco tempo comprei outro 128 da primeira série para restauro e como o carro do dia a dia (Um velho alfa Romeu) já começava a ser também ele um clássico lá se decidiu que também ficava na família…Os restauros, as horas infindáveis na garagem, mãos sujas de óleo, reparações constantes de carros”Velhos”, esta e outra peça que faz falta… enfim toda esta realidade passou a habitar paredes-meias connosco.Entre outros, recordo um passeio no qual a Isabelinha depois de sair do trabalho de madrugada, (Tanto ela como eu trabalhamos por turnos) se deslocou comigo, 317 km até ao Luso para um encontro de Fiats. Para mim foi uma aventura e tanto pois é sempre agradável o contacto com outros apaixonados.Para ela… Enfim! A paisagem do Buçaco vale sempre a pena ver… Não é?Enfim… Hoje em dia é muitas vezes ela que me diz: olha está ali um carro antigo. É um Fiat não é?Neste momento mora na garagem um alfa Romeu sprint e dois Fiats 128 alem dos veículos do dia a dia.Nada disto seria possível se não fosse o apoio (E a paciência…Reconheço!) da minha querida Isabelinha.

Uma História escrita pela minha esposa...


Uma viagem de FIAT antigo…No passado Fim-de-Semana de 2, 3 e 4 de Outubro o meu marido resolveu presentear-me com uns dias no Algarve…Como amante de praia que sou, fiquei obviamente entusiasmada.È raro conseguir tantos dias livres para um passeio sem ser de férias, por isso fiquei bastante contente.-Mas…-Disse ele…-Vamos de clássico!Inicialmente ainda pensei que ele se estive a referir ao Alfa Romeo, que apesar de alguma idade ainda reúne uma série de condições que eu considero minimamente fiáveis para uma viagem de tantos quilómetros. Mas não… estava a referir-se ao velho (E digo-o sem medo. VELHO!!!) FIAT 128 que ele tanto monta e desmonta nos tempos livres.Desculpem os amantes de carros antigos, mas não percebo…Se podíamos levar um carro novo com todas as recentes comodidades, porque teríamos de ir naquela coisa antiquada?Rapidamente percebi que ele estava determinado.Lavar, encerar, pintar rodas etc. Nada havia a fazer se não conformar-me…No dia 2 de manhã lá arrancamos em direcção a Alcácer onde na área de serviço outros amigos aguardavam para formar uma pequena caravana. Essa ideia até me agrada pois em caso de avaria é sempre reconfortante saber que não estamos sós.O dia estava muito agradável, e aquela caravana de veículos, desfasados no tempo, contrastando com a paisagem Alentejana, não deixava de ter um sabor algo nostálgico.Quando chegamos ao hotel tínhamos deixado para trás cerca de 250kms de estrada num carro com 34 anos…ainda faltava o regresso…Em Armação de Pêra sentia-se o cheirinho a maresia e um ambiente balnear que foi realmente o que me convenceu a esta aventura.O passeio correu regularmente sem contratempos, nem avarias. Mas eu junto com uma companheira destas coisas, cujo marido é como o meu, a determinada altura, resolvemos deixa-los entregues á sua sorte e fomos para a praia desfrutar de algo que realmente gostamos.Eles lá ficaram divertidos (e aliviados pela nossa ausência) a brincar como garotos crescidos em provas de perícia e coisas assim.Todo o fim-de-semana foi agradável e divertido, recordei algumas coisas que já não via desde os tempos em que vinha ao Algarve com os meus pais á muitos anos atrás, alem de um convívio muito salutar entre os participantes deste encontro.Agora no último dia faltavam mais 250kms de regresso, com a noite a cair… Ai!Ao contrário do que eu esperava o FIAT até se portou á altura. Embora numa ou noutra ultrapassagem fosse nítida a sensação de que uma roda saltava ou qualquer coisa partia… mas não. O carrito lá seguiu a sua jornada com o meu marido confiante ao volante.Respirei de alívio ao chegar ao último cruzamento, antes de casa.-Agora se ele avariar, já posso ir a pé!!!O meu marido não achou muita graça, depois de ter feito 700kms sem qualquer problema aquele comentário irónico teve algo de desagradável…Mas pronto tudo correu bem e o amarelinho não nos deixou ficar mal e isso é que importa não é?