segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Vauxhall Viva do Meu Padrinho... Um carro de facho!

Um carro de “facho”.

Corria o ano de 1975 quando o meu padrinho realizou um feito histórico na família. Comprou um carro novo em primeira-mão.
Não era muito frequente, um jovem em começo de vida começar logo por um carro novo a estrear, mas o meu padrinho depois de muito poupar lá conseguiu realizar o seu sonho.
Como já disse corria o ano de 1975, tinha eu na altura 3 anos o único carro que se conhecia na família era o do meu pai que já começava dar muitos sinais de cansaço e diga-se de passagem não era muito elegante.
Ainda hoje recordo a noticia… A minha mãe para mim.
- Filho o teu padrinho comprou um carro novo.
-E é bonito, mãe?
-Não sei! Mas logo quando o teu pai chegar vamos lá vê-lo.
Não descansei mais até o meu pai chegar a casa embora muito pequeno, recordo a minha curiosidade como se fosse ontem.
Começou a cair a noite e isso era sinal de que o meu pai estava quase a chegar a casa. Os meus olhos não desligavam da janela na esperança de que por qualquer motivo o meu padrinho até se decide-se a vir mostrar-me o carro… enfim criancices!
Mas por fim lá caiu a noite e o meu pai veio com ela na velha Raimona (Apelido que o meu pai chamava ao carro, que também era um vauxhall carrinha série há.), enquanto jantava lá a minha mãe ia contando as novidades do dia inclusive da compra do meu padrinho.
As palavras magicas: vamos lá então ver isso.
-Disse o meu pai decidido.
Família na Raimona e lá fomos nós direitos ao carro novo do meu padrinho.
Quando chegamos á entrada da fazenda dos meus avós vimos um carro avançar lento junto á berma da estrada.
Diz o meu pai para a minha mãe…
-Deve ser o teu irmão a experimentar o carro… Então, ele não sabe que metade da estrada é dele? E que não é preciso andar em cima da berma?
-Não sejas assim… Retorquiu a minha mãe!
-Não vês que ele tem carta á pouco tempo?
Meu pai sorriu com olhar trocista mas não tornou a dizer mais nada…
Eu pequeno perdido no banco de traz tentava perceber que carro era aquele tão diferente do, carro do meu pai.
Esguio e baixinho todo brilhante com um ruído silencioso e de cor azul (Pouco perceptível pois era de noite) … muito bonito!
Paramos já dentro da fazenda e esperamos que o meu padrinho fosse ter connosco para mostrar o popó novo.
Quando ele chegou fui logo lá meter o nariz para ver tudo muito bem visto.
O meu pai e o meu padrinho lá ficaram a discutir os pormenores técnicos e a dar os habituais toques com a biqueira do sapato nos pneus (até hoje desconheço qual a finalidade disto pois não estou a ver detectar seja o que for desta forma. Mas que é uma tradição na compra de qualquer carro dar esses toques lá isso é).
Surge então o momento ambicionado. A viagem inaugural.
Entramos todos lá dentro, até para levantar o banco havia um manípulo. O luxo era notório. Sentia-se o cheiro de carro novo e a minha mãe disse ao afundar no banco estofado e fofo: ena, carro de “facho”…
Meu padrinho sorriu amarelo pois aquela expressão apesar de vir da irmã com as memórias frescas do 25 de Abril não era das mais felizes…
Mulheres e crianças atrás e homens á frente e lá arrancou aquele mini passeio de família.
O meu pai sem conseguir resistir teve de dizer…
- Olha que metade da estrada é tua não vás em cima da berma…
Lá se puxou pelos cavalos (pouco para não estragar o popó) e cinco minutos depois estava a volta dada.
Depois disso habituei-me a ver aquele carro azul lindo sempre nas mãos do meu padrinho durante mais de 20 anos. Sempre tive o desejo secreto de ficar com ele um dia mais tarde… mas a vida não se proporcionou a tal. Depois de se fartar de procurar peças aqui e ali para ele o meu padrinho acabou por vende-lo para a sucata.
Já em cima do reboque diz quem viu que o azul apesar de sujo continuava bonito como sempre foi. Mas, o motor… esse já estava silencioso de inércia e sem retorno…
Triste fim para um carro de “facho”…

Luís Fernando de Oliveira e Silva

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