segunda-feira, 12 de maio de 2008

Viagem a Évora


Uma viagem a Évora…Estávamos em 2002 quando foi mais um encontro do Clube Fiat de Portugal em Évora.A recuperação do amarelinho já lhe permitia arriscar qualquer coisa por isso estava decidido! O amarelinho vai a Évora!O começo da história reporta-se a algum tempo a traz quando resolvi contra tudo e todos comprar o meu clássico mais antigo. Um Fiat 128 da primeira série que eu vira abandonado á porta de um prédio em Setúbal. Inicialmente pensava em comprar um carismático 600s ou o irmão mais novo, o 850. A ideia andava a trabalhar á muito na minha cabeça até que aquele 128 me despertou a atenção durante umas semanas. Era um 128 da primeira série já um pouco rara de se ver por ai, por isso lá o comprei por 28 contos ao seu antigo dono com o objectivo de o restaurar aos poucos. Quando o levei para casa pelos próprios meios pouca gente acreditava que isso fosse possível pois já havia 30 anos que tal veiculo tinha saído do stand. Mas enfim com uma genica própria de quem foge do fim certo o 128 lançou-se em corrida para o mais longe possível de Setúbal até á Moita onde comecei por desmancha-lo.Ficou apenas carroçaria e motor… o carrinho metia dó!Ficou ainda alguns meses sem ser mexido pois a minha mulher achava pouca piada a eu ficar longe de casa para mexer em carros velhos. Enfim… coisas de mulheres…Solução? Levar o 128 para casa, onde dentro da garagem do domicílio se podia actuar mais á vontade na sua recuperação sem ficar afastado do lar doce lar…Sopa no mel!!! Sempre que algo não me agradava na televisão ou a esposa tinha de fazer alguma coisa lá ia eu como criança junto da árvore de natal agitar as prendas para antecipar o momento de as abrir.Não foram raras as noites em que depois da amada esposa adormecer lá ia eu fazer qualquer coisinha no brinquedo pela noite dentro (sempre fui vitima das insónias desde que me conheço por gente…).Como já estava desmontado foi aproveitar para preparar a chapa para pintar e ir resolvendo alguns problemas mecânicos como travões, dínamo e radiador entre outros. O projecto de restauro lá foi tomando forma pouco a pouco entre risos e piadas de colegas, amigos e família.A cor? Foi difícil pois a cor original não condizia com o objectivo do brinquedo que é mesmo esse. Brincar…Pedi ajuda á minha amada esposa pois por um acaso do destino não me dou bem com as cores embora tenha noção delas não as distingo (daltónico). Procuramos entre os tons de amarelo disponíveis nos catálogos da Fiat e lá estava amarelo Fiat 1973.È este! Disse ela com convicção. Comprei a tinta e pus-me ao trabalho! Pintei o carro (e a garagem) todo (toda…).A primeira pintura não ficou lá grande coisa mas também não estava feio. Faltava apenas algum brilho!Montei o carrito, comprei uns pneus e no dia três de Fevereiro estava pronto a ir á inspecção.Nesse dia fatídico, foi roubado da porta de casa…Foi um mês horrível… depois de muito investimento pessoal e financeiro, tudo ia por agua abaixo por uma mão alheia que o queria, sabe deus para quê… Noites houve em que me dirigia para a janela para ver os carros a passar ao longe na esperança vã de que por um acaso ilusório os ladrões se deixassem ver com o meu amarelinho…Todos os dias, ouvia na minha tristeza as mais absurdas teorias…Desde, que tinha sido roubado para ser prensado para a dose de droga de algum toxicodependente, ou para ser exportado para Angola onde os Fiat 128 têm ainda muita aceitação.Enfim…Mas um mês depois no dia 2 de Março lá recebi a notícia por intermédio do amigo José Fernandes que o meu carro havia sido visto em Brejos de Azeitão próximo de um salão de jogos (Durante o tempo de desaparecimento um grupo de amigos do clube F.I.A.T. de Portugal uniu esforços na divulgação das fotos e foi graças a isso que o veiculo enfim lá apareceu.). Foi lá e para minha surpresa Lá estava ele com um cubo da roda partido mas era ele…Voltou á garagem e nessa mesma noite depois de trabalho de oficina caseiro pegou á primeira volta do motor de arranque e foi dar uma voltinha pela urbanização.Mais uns tempos de recuperação caseira e foi pela primeira vez á inspecção… passou apenas com uma anotação de aviso na panela de escape que estava a ficar furada.Desde ai o amarelinho (Alcunha pela qual passou a ser conhecido), tem sido um amigo inseparável de varias aventuras uma das quais a ida a Évora que foi para mim o corolário do sucesso do meu trabalho.Cerca de 200 km para testar a mecânica e o mecânico…A minha esposa sempre com uma opinião algo céptica não estava de grande vontade mas lá se convenceu da importância de tal passeio para mim e por isso concordou a muito custo.Chegou ao domingo, e eu como quase sempre tinha trabalhado de noite… mas não me atrapalhei sai de Setúbal, fui ao Barreiro buscar a esposa e segui para Palmela, que era ponto de encontro da caravana.Quando lá chegamos era altura de atestar o veículo com a velhinha super aditivada. Vinte euros? Deve chegar…Dirijo-me para a caixa quando… por debaixo do velho 128 a agua corria a fio… a viagem estava condenada pensei eu.Abri o capo, e lá estava a causa. Um furo microscópico vaporizava a agua a grande pressão. Mala de ferramenta, jeito e habilidade e pronto para seguir de novo até Évora.A caravana seguiu o seu percurso e eu lancei-me no seu encalço.Já depois de Grândola apanhei-a, e seguimos até ao destino.Depois de algum tempo de convívio era o momento de voltar.Como ainda era cedo resolvemos (eu e a minha mulher…) voltar pela nacional, e seguir por Tróia para apreciar a paisagem solitária do Alentejo. As longas estradas com vastas planícies de ambos os lados, tornam este tipo de viagem algo solitária. Porem o trabalhar suave de um motor de 128, assim como a companhia da mulher de nossa vida num caminho assim, tem o sabor romântico do final de um qualquer, filme de aventuras (Não é propriamente um Ford Mustang a acelerar pelo Texas a fora com o ranger whallker lá dentro mas também estamos em Portugal…).Ao chegar aos barcos de Tróia depara-se nos, uma pequena fila já habitual num domingo. Paramos e aguardamos…Nisto reparamos num agente de autoridade que se dirigia para o carro, com ar de poucos amigos.- Luís… ele, vem para aqui! Diz a minha esposa assustada.- Pois que venha! Tudo está ok com o carro! (Nestes momentos por mais confiança que tenhamos numa coisa, vacilamos sempre um pouco com a presença do agente de autoridade) O agente dirige-se a nós, faz-me sinal para baixar o vidro… e diz com tom muito sério.- Sabe o que eu quero de si?­- Não… Respondo eu com algum receio já a prever alguns aborrecimentos…- Quero saber… quanto você quer pelo carro!!!Foi o primeiro carro que eu tive na minha vida e deixou-me muitas saudades.Para minha surpresa o agente era um aficionado pelos clássicos e já possuía alguns Fiats na sua colecção.Depois de alguns minutos de conversa agradável com aquele agente simpático, o barco teve de seguir para Setúbal para depois regressar a casa com uma belíssima história para recordar e contar, alem de uma fotografia tirada por acaso que ficou muito curiosa pelo contraste que revela entre algumas marcas de luxo e o meu carrinho, que realmente foi o rei desta viagem.

Luís Fernando de Oliveira e Silva

Sem comentários: