segunda-feira, 12 de maio de 2008

A "raimona"...


A raimona…


A história que eu conto aqui reporta-se á minha infância nos anos setenta e como é lógico envolve a história de um automóvel que marcou a minha infância. Corria o ano de 1966 quando o meu pai como tantos outros regressou de Angola.
(Meu pai em Angola junto de um willis)
A minha avó na altura tinha um pequeno “lugar” (Pequena mercearia) de frutas e hortaliças que servia de sustento á família.
Estávamos em período de guerra no país e a crise acentuava-se. Os pequenos fornecedores da zona não chegavam para manter a freguesia satisfeita, ávida de produtos frescos, diariamente. As transportadoras acumulavam a maior parte dos lucros e encareciam os preços de forma proibitiva.
A minha avó, mulher empreendedora, rapidamente se apercebeu que era necessária á família e ao negocio um veiculo de transporte que desse resposta ás crescentes necessidades do dia a dia.
Meu avô homem envolvido muitas vezes em questões de politica e com um espírito de justiça e reivindicativo muito próprio não tinha nunca tido a oportunidade de tirar a carta de condução. De qualquer maneira o seu trabalho na marinha mercante também não dava muita margem de manobra para se contar com ele numa tarefa quase diária.
Restava o meu pai jovem de 25 anos com a carta de condução tirada na tropa e que já tinha voltado para ajudar a família.
A reacção não podia ser pior… Estávamos em 1966 com um país em guerra, e a minha avó queria comprar um carro para o qual não havia dinheiro…
Depois de muita teima e de muitos receios lá o meu pai se convenceu. Procuraram um amigo de família que era vendedor da BMW e ele perante as necessidades lá lhe indicou um veículo adequado fruto de uma troca. Tratava-se de uma carrinha vauxhol viva que tinha apenas 12000 km. Negocio feito 24 letras mensais para pagar e uma série de dores de barriga de medo de não as conseguir pagar.
A ideia não podia ter sido melhor. Os produtos eram adquiridos todos os dias e vendidos ainda frescos, a freguesia comprava mais barato e a minha avó embolsava os lucros que dantes eram para transportadoras.
Os anos foram passando, o meu pai casou e a carrinha carinhosamente apelidada de raimona (O meu pai baptizou com este nome pois na altura a raimona era o nome que as pessoas chamavam ás carrinhas da”pide” que vinham buscar os dissidentes a casa á noite. Eram muito semelhantes de cor preta e aspecto quadrado…), continuou na família mais uns anos. 1972 Foi o ano do meu nascimento, o carro da família continuava a ser a “raimona”mas já com bastantes sinais de degradação. Da minha infância recordo as avarias constantes e os habituais pedidos de ajuda a quem passava para dar um empurrão aqui ou ali. As horas que o meu pai passava, a remendar esta ou aquela avaria com os seus conhecimentos de mecânico da tropa… Recordo também o buraco que nasceu debaixo do lugar do pendura e do qual se via a estrada… enfim naquela altura não entendi porque o pequeno orçamento familiar não conseguiu manter a velha carrinha, mas hoje percebo porque se esgotou a paciência do meu pai.
1980 O chassis da carrinha já bastante corroído deixou de oferecer segurança e o meu pai encostou-a definitivamente. Um amigo do meu pai ainda a comprou e a levou para Setúbal com ideias de a recuperar mas infelizmente desistiu logo de início. Na minha meninice de então chorei com muita mágoa por o meu pai ter vendido o carro e por pirraça escondi a chave sobresselente que ainda hoje conservo religiosamente como recordação.
Da carrinha nada mais soube até mais ou menos dois anos em que descobri que ela esteve abandonada no hospital do Outão onde trabalha esse amigo do meu pai até a cerca de quatro anos e de onde foi para a sucata sem grandes honras e méritos.
Para a recordar ficou a chave, e as fotos de outra que foi entregue para abate e que eu não consegui salvar…

3 comentários:

A. Neves disse...

Amigo Luis, espero que esteja tudo bem contigo e familia, dá noticias.
A. Neves

Azeitão

A. Neves disse...

Se entretanto não falar-mos, um abraço e bom Natal

A. Neves

Um pai para todos disse...

Boa tarde

vi no seu blog sobre o restauro do 2cv que esmaltou os resguardos do motor e niquelou os colectores do escape. o resultado foi muito bom. como é que fez isso...ou onde e a que preços? tenho também um 2cv de 90 e já sabe como é...estes carros estragan-se por não andarem e estão sempre a precisar de coisas.
responda-me por favor para batista.reis@marinha.pt

obrigado